Caso Richthofen é o nome
pelo qual tornaram-se conhecidos o homicídio, a consequente investigação e o
julgamento das mortes de Manfred Albert von Richthofen e Marísia von
Richthofen, casal assassinado pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos a mando
da filha Suzane von Richthofen.
Histórico
Suzane e Daniel
conheceram-se em agosto de 1999 e começaram um relacionamento pouco tempo
depois. Ambos tornaram-se muito próximos, mas o namoro não tinha o apoio das
famílias, principalmente dos Richthofen, que proibiram o relacionamento.
Suzane, Daniel e Cristian então criaram um plano para simular um latrocínio e
assassinar o casal Richthofen, assim os três poderiam dividir a herança de
Suzane.
Suzane e os Cravinhos, dias
antes do crime, fizeram um teste de barulho causado pelos disparos de uma arma
de fogo e com isso descartaram a ideia de utilizar uma. Na tarde de 30 de
outubro de 2002, Suzane e Daniel Cravinhos repassaram pela última vez os planos
do assassinato dos pais da moça. Conversaram com Cristian, que morava na casa
da avó, o qual, ainda relutante, não deu a certeza de que participaria nos
eventos que se seguiriam à noite.
Família Richthofen.
Daniel pediu que o irmão pensasse a respeito
e, se resolvesse ajudá-los, que os esperasse em uma dada rua, próxima a um
cyber café aonde levariam Andreas. Naquela noite, o irmão de Suzane, Andreas,
na ocasião com quinze anos, foi levado pela garota e pelo namorado dela para um
cyber café, ele foi seduzido pela ideia de que no aniversário de namoro da irmã
a comemoração do casal seria em um motel e a dele seria na LAN house, e que
Suzane iria convencer seus pais a deixar o irmão Andreas faltar à escola no dia
seguinte.
Cristian já estava no cyber
café. Ele chegou ao local às 22h12 e saiu às 22h50, para que Andreas não o
visse. Por volta das 23h20, Suzane e Daniel encontraram-se com Cristian perto
do local. Os três seguiram para a mansão dos von Richthofen no Volkswagen Gol
da estudante. Dias antes da noite do assassinato, Suzane havia
meticulosamente desligado o alarme e as câmeras de vigilância da casa, de modo
que nenhuma imagem do trio chegando fosse capturada.
Por volta da meia-noite,
eles estacionaram o carro na garagem. Segundo a polícia, no carro já estavam as
barras de ferro, ocas, que foram utilizadas no assassinato. Os rapazes vestiram
blusas e meias-calças para evitar que caíssem pelos pela casa, material que
poderia ser usado pela polícia para provar a autoria do crime. Suzane abriu o
portão, subiu as escadas e acendeu a luz do corredor, para que os irmãos
tivessem visão do quarto do casal. Marísia e Manfred dormiam. A estudante separou
sacos de lixo e luvas cirúrgicas, que eram utilizadas pela mãe, psiquiatra.
No dia 31 de outubro de
2002, Suzane abriu a porta da mansão da família no Brooklin, em São Paulo, para
que os irmãos Cravinhos pudessem acessar a residência. Os irmãos, armados com
barras de ferro, entraram no quarto do casal. Daniel seguia em direção ao
engenheiro Manfred, enquanto Cristian ia em direção a Marísia. Eles foram golpeados
na cabeça.
Os corpos de Manfred Albert von Richthofen e Marísia von
Richthofen.
Manfred morreu na hora, Marísia, ao ser atacada, acordou e
tentou se defender com as mãos e por isso teve três dedos fraturados. Cristian
disse à polícia que bateu em Marísia por cinco vezes e colocou uma toalha em
sua boca para que parasse de implorar para que os supostos
"assassinos" não atacassem seus filhos, que, para ela, estavam
dormindo.
Ainda segundo o relato de Cristian, em determinando momento,
enquanto agonizava, Marísia passou a emitir um som "parecido com um
ronco". Para tentar silenciá-la, Cristian Cravinhos então pegou uma toalha
no banheiro do casal e empurrou-a pela garganta da psiquiatra, o que quebrou um
dos ossos do pescoço de Marísia. Depois de confirmar que os dois estavam
mortos, Daniel colocou uma arma pertencente a Manfred perto de seu braço, ao
lado da cama, e cobriu o rosto dele com uma toalha. O corpo de Marísia foi
envolvido em um saco plástico de lixo, que havia sido deixado por Suzane na
escada para que os irmãos depositassem as barras de ferro e suas roupas
manchadas com o sangue dos pais.
"Chegamos em casa, eu
entrei e fui até o quarto dos meus pais. Eles estavam dormindo. Aí, eu desci,
acendi a luz e falei que eles podiam ir. Fiquei sentada no sofá, com a mão no
ouvido. Eu não queria mais que meus pais morressem. Mas aí eu percebi que não
tinha mais o que fazer, que já era muito tarde", confessou Suzane no
depoimento após ser detida.
Não há certeza sobre a
posição de Suzane na casa enquanto o crime ocorria e se, depois, ela viu os
corpos dos pais. De acordo com a reconstituição do crime, ela ficou no térreo,
onde aproveitou para roubar o dinheiro em espécie que havia na casa, guardado
dentro de uma pasta de couro com código. Suzane abriu a maleta, pois sabia o
segredo, mas Daniel depois cortou a pasta com uma faca para forjar o roubo de
8.000 reais, 6.000 euros e 5.000 dólares. Eles ainda abriram um cofre do
casal, onde estavam joias e um revólver, localizado no quarto. Os acusados
espalharam as joias pelo chão e deixaram o revólver, intacto, ao lado do corpo
do engenheiro. Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina e tudo
que foi usado no crime foi colocado dentro de sacos de lixo, tendo os três
inclusive trocado de roupa.
O dinheiro roubado e algumas
joias ficaram com Cristian, como pagamento por sua participação. Após o crime,
ele foi deixado perto do apartamento onde morava com a avó, e o casal passou à
terceira parte do plano: forjar o álibi. Suzane e Daniel foram para o motel
Colonial na avenida Ricardo Jafet, na região do Ipiranga, zona sul. Ficaram na
suíte presidencial, pela qual pagaram cerca de 300 reais, pediram uma Coca-Cola
e um lanche de presunto. Daniel curiosamente pediu uma nota fiscal, a primeira
expedida pelo motel. O casal ficou no local da 1h36 às 2h56, segundo a
polícia.
Ao deixar o motel, a dupla
passou no cyber café para pegar Andreas. Eles foram até a casa do namorado da
estudante e disseram ao adolescente que ele poderia andar em uma mobilete de
Daniel. Pouco depois, conforme o plano original, começou a segunda etapa da
simulação. Por volta das 4h, Suzane e Andreas retornaram para casa. Eles
chegaram à mansão, onde Suzane disse ter "estranhado" o fato de as
portas estarem abertas. Andreas entrou na biblioteca e gritou para os pais,
enquanto Suzane, orando, correu para o cozinha e pegou uma faca e a entregou ao
irmão, ordenando-lhe que esperasse do lado de fora da mansão. A estudante ligou
para o namorado e depois, junto de Andreas, deu vários telefonemas para dentro
da casa, esperando que seus pais atendessem.
Às 4h09, Daniel contactou a
polícia. Disse que estava em frente à casa da namorada, que suspeitava de um
assalto no lugar e pediu a presença de uma viatura.
Alexandre Paulino Boto foi o
primeiro policial ao chegar ao local. Em seu depoimento durante o julgamento do
trio, classificou o assassinato como um “crime de amadores”. “O crime era um
procedimento de amadores. Largaram as joias, celulares, deixaram uma arma no
quarto do casal. Se alguém quer roubar, furtar, não deixaria isso no local”,
afirmou o policial, em 2006. “Um ladrão não deixaria a arma no chão." Boto
disse ter estranhado o comportamento de Suzane, que lhe perguntou quais seriam
os procedimentos que a polícia iria seguir. “Eu estranhei a pergunta e a atitude
impassível diante da morte dos pais”, afirmou. Em seguida, ela perguntou como
estavam os pais. “Quando eu disse que estavam bem, ela ficou espantada.
‘Como?’, perguntou.” O policial também estranhou as perguntas de Daniel, que
chegou ao local pouco depois. "Você sabe se levaram alguma coisa de dentro
da casa? Parece que a família guardava todo o dinheiro em uma caixinha."
Em seguida, Daniel falou os valores exatos das quantias guardadas.
Enquanto um policial
permaneceu com Suzane e Andreas do lado de fora da mansão, Boto e outro
policial entraram na residência, com cuidado, pois ainda havia a possibilidade
de se encontrar um suposto ladrão. No andar de baixo, a biblioteca estava
totalmente revirada, a sala e a cozinha estavam em ordem. Uma escada levava ao
andar superior. Os PMs subiram e verificaram o que parecia ser um quarto
feminino, com o closet revirado e bichos de pelúcia jogados ao chão. O quarto
seguinte era tipicamente masculino, com um aeromodelo pendurado no teto, tudo
organizado; 3 travesseiros cobertos por um lençol. O próximo quarto era de
casal, um homem estava morto na cama próximo a uma arma; a hipótese de suicídio
foi logo descartada, quando Boto encontrou um corpo feminino debaixo dos
lençóis.
Temendo a reação dos jovens,
os policiais acionaram uma viatura de resgate. Nessa altura da noite, por volta
das 4h30, a família de Daniel já estava no local, abraçada com Suzane e
Andreas. Boto pediu que Daniel contasse aos filhos do casal que seus pais
haviam sido assassinados. Daniel abraçou os dois, abaixaram a cabeça,
cochicharam. Andreas se afastou do grupo, aparentemente em estado de choque.
Suzane se aproximou de Boto e perguntou “O que eu faço agora?”.
Mansão dos Richthofen.
Por volta das 5h, já era
possível ouvir o som de sirenes se aproximando. O pai de Daniel, Astrogildo
Cravinhos, se encarregou de falar com os repórteres de várias redes de
televisão, enquanto Suzane e Andreas eram encaminhados à delegacia. O relógio
marcava 6h e o comportamento do casal logo chamou a atenção de todos na
delegacia. Durante a espera para serem atendidos, Suzane tirava um cochilo
encostada nos ombros de Daniel. Andreas ficou ali sentado, encolhido e
visivelmente abalado, enquanto a irmã trocava carícias com o namorado. Entre as
frases enquanto faziam o boletim de ocorrência, eram trocados beijos e carícias
entre o casal. Suzane disse ao delegado titular Dr. Enjolras Rello de Araújo,
“Eu gostaria que vocês matassem e torturassem esses caras que mataram meus pais”
e sorriu para Daniel.
Para todos os envolvidos na
investigação do assassinato do casal Von Richthofen, desde o início aquele
"latrocínio" parecia uma encenação e os trabalhos se concentraram nas
pessoas mais próximas da casa: filhos, empregada, colegas de emprego de Manfred
na Dersa e pacientes de Marísia. A polícia investigou o relacionamento de
Suzane com Daniel Cravinhos. Segundo amigos da família, Manfred e Marísia não
aprovavam o relacionamento que, por pressão maior da mãe, chegou a ser rompido
uma vez. No dia 4 de novembro de 2002, Suzane prestou o segundo depoimento aos
policiais do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O
interrogatório, para tirar dúvidas sobre eventuais contradições, durou cerca de
duas horas.
Após suspeitar da compra de
uma moto nova por Cristian Cravinhos poucos dias após os assassinatos, a
polícia o prendeu preventivamente, enquanto interrogava Daniel. No dia 8 de
novembro de 2002, Cristian, Daniel e Suzane confessaram o assassinato do
casal.
Os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos e Suzane.
O Tribunal do Júri condenou
Suzane Richthofen e Daniel Cravinhos a 39 anos de reclusão, mais seis meses de
detenção, pelo assassinato do engenheiro Manfred e da psiquiatra Marísia von
Richthofen, mortos a pauladas no dia 31 de outubro de 2002, na residência
deles, no bairro nobre do Brooklin, em São Paulo. A pena-base foi de 16 anos,
mais 4 pelos agravantes, para cada uma das mortes. Ambos tiveram sua pena
reduzida em um ano; Suzane por ser à época menor de 21 anos, e Daniel, graças à
confissão.
Já Cristian Cravinhos foi condenado a 38 anos de reclusão, mais seis
meses de detenção. Sua pena-base foi de 15 anos, mais 4 pelos agravantes,
também para cada uma das mortes. Ele também teve sua pena reduzida em um ano
por ter confessado o crime. Mesmo condenados a quase 40 anos, a lei brasileira
só permite que um condenado fique preso por no máximo 30 anos. Atualmente Suzane já se beneficia do regime de progressão de pena, cumprindo sua sentença em regime semi-aberto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário